Crônica da Solidão Amiga
O relógio bate 2:00 da manhã,
ainda estou acordada, olho para o silêncio do meu quarto, olho porque no escuro
percebemos o quanto nosso mundo está vivo e sozinhos, descobrimos que a solidão
pode ser nossa companheira em momentos que precisamos refletir sobre nossas
atitudes na vida. A quanto tempo eu não me sentia assim? O que fiz com minha
vida? Será que ainda sou que eu costumava ser? Ou a menina que fui está apenas
no passado? Sim, ela virou poeira, um fantasma que me atormenta nas noites que
o sol nunca tocará o chão empoeirado do meu quarto. Às vezes, me pergunto se
ela teria orgulho de quem sou hoje, se eu realmente consegui projetar os
sonhos que um dia ela sonhou e que estou fazendo o certo.
No escuro do quarto, percebo que
estou realmente sozinha, perdida num silêncio que muitas vezes me recusei a
ouvir, não por má vontade, mas pela vida que tenho. Sim, a vida que tenho e que a
maioria das pessoas tem ou não conseguem enxergar. A verdade é que a vida está
sempre nos colocando em situações que só podemos ver o que queremos e não o que
precisamos. Percebo que deixei de lado o que me importava, meus amigos, meus
amores, minha família, o meu eu, tudo por coisas superficiais que a rotina nos
oferece, tudo comercializado, embalados para a entrega nas vitrines da vida.
Pouso os meus próprios braços
sobre mim e sinto falta do que é um abraço sincero, do encontro de um corpo que
exprime suas emoções sobre outro. Fico me perguntando se é possível que eu
tenha esquecido de algo tão maravilhoso e que agora, nesse quarto escuro, me
faz tanta falta. No silêncio da noite eu ouço sons que não vem do meu quarto,
mas lá de fora. Sei que em algum lugar tem pessoas rindo, conversando. Em algum
lugar uma mãe abençoa seus filhos na hora de dormir, que alguém está se
divertindo ao assistir o seu filme de comédia favorito, um velhinho ascende sua
lareira para se aquecer do frio. Lá fora, nessa noite fria, alguém está vindo a
esse mundo enquanto outra dá seu último suspiro. É incrível que eu tenha
esquecido que em noites assim, as pessoas que eu um dia amei estão seguras, em
suas camas quentes com seus corações acalentados pelo nosso bom e velho “Pai
Nosso”.
É nesse momento que eu percebo
que minha vida está passando e eu estou esquecendo o que realmente faz sentido
na vida, as coisas simples. Numa noite de reflexão, percebi que a solidão só é
ruim para quem não acredita nela, ela pode ser muito melhor que uma falsa
companhia. Na solidão podemos olhar para nós mesmos, nos encontrar, refletir
sobre o que nossa vida tem sido. Precisamos saborear da nossa própria solidão para
poder nos achar nesse mundo tão louco.
Depois dessa noite, a solidão se
tornou um “mal necessário”, algo que o mundo nos dá para aprendermos sobre o
que realmente nos faz feliz e, ao perdermos, nos fazem uma imensa falta. Muita gente se volta demais para a vida
profissional e fecham os olhos para tudo que está a sua volta, todas as pessoas
que desejam sua companhia, todas as que te amam verdadeiramente. A solidão pode
ser algo que te faz sofrer, mas sem sombra de dúvidas, ao experimentá-la, você
enxergará o que a vida te oferece a todo o instante e, ao ignorar, impede que você
seja verdadeiramente feliz. O Sol está nascendo e com ele, minha alegria de um
sábado ensolarado, mais que isso, minha vontade de ver a vida com o verdadeiro
olhar de quem se vive e espera que cada dia seja um melhor que o outro. E se a
solidão for necessária, eu aceitaria de bom grado.
Por: Eloy Vieira
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