quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Crônica da Solidão Amiga

Crônica da Solidão Amiga



O relógio bate 2:00 da manhã, ainda estou acordada, olho para o silêncio do meu quarto, olho porque no escuro percebemos o quanto nosso mundo está vivo e sozinhos, descobrimos que a solidão pode ser nossa companheira em momentos que precisamos refletir sobre nossas atitudes na vida. A quanto tempo eu não me sentia assim? O que fiz com minha vida? Será que ainda sou que eu costumava ser? Ou a menina que fui está apenas no passado? Sim, ela virou poeira, um fantasma que me atormenta nas noites que o sol nunca tocará o chão empoeirado do meu quarto. Às vezes, me pergunto se ela teria orgulho de quem sou hoje, se eu realmente consegui projetar os sonhos que um dia ela sonhou e que estou fazendo  o certo.
No escuro do quarto, percebo que estou realmente sozinha, perdida num silêncio que muitas vezes me recusei a ouvir, não por má vontade, mas pela vida que tenho. Sim, a vida que tenho e que a maioria das pessoas tem ou não conseguem enxergar. A verdade é que a vida está sempre nos colocando em situações que só podemos ver o que queremos e não o que precisamos. Percebo que deixei de lado o que me importava, meus amigos, meus amores, minha família, o meu eu, tudo por coisas superficiais que a rotina nos oferece, tudo comercializado, embalados para a entrega nas vitrines da vida.
Pouso os meus próprios braços sobre mim e sinto falta do que é um abraço sincero, do encontro de um corpo que exprime suas emoções sobre outro. Fico me perguntando se é possível que eu tenha esquecido de algo tão maravilhoso e que agora, nesse quarto escuro, me faz tanta falta. No silêncio da noite eu ouço sons que não vem do meu quarto, mas lá de fora. Sei que em algum lugar tem pessoas rindo, conversando. Em algum lugar uma mãe abençoa seus filhos na hora de dormir, que alguém está se divertindo ao assistir o seu filme de comédia favorito, um velhinho ascende sua lareira para se aquecer do frio. Lá fora, nessa noite fria, alguém está vindo a esse mundo enquanto outra dá seu último suspiro. É incrível que eu tenha esquecido que em noites assim, as pessoas que eu um dia amei estão seguras, em suas camas quentes com seus corações acalentados pelo nosso bom e velho “Pai Nosso”.
É nesse momento que eu percebo que minha vida está passando e eu estou esquecendo o que realmente faz sentido na vida, as coisas simples. Numa noite de reflexão, percebi que a solidão só é ruim para quem não acredita nela, ela pode ser muito melhor que uma falsa companhia. Na solidão podemos olhar para nós mesmos, nos encontrar, refletir sobre o que nossa vida tem sido. Precisamos saborear da nossa própria solidão para poder nos achar nesse mundo tão louco.
Depois dessa noite, a solidão se tornou um “mal necessário”, algo que o mundo nos dá para aprendermos sobre o que realmente nos faz feliz e, ao perdermos, nos fazem uma imensa falta.  Muita gente se volta demais para a vida profissional e fecham os olhos para tudo que está a sua volta, todas as pessoas que desejam sua companhia, todas as que te amam verdadeiramente. A solidão pode ser algo que te faz sofrer, mas sem sombra de dúvidas, ao experimentá-la, você enxergará o que a vida te oferece a todo o instante e, ao ignorar, impede que você seja verdadeiramente feliz. O Sol está nascendo e com ele, minha alegria de um sábado ensolarado, mais que isso, minha vontade de ver a vida com o verdadeiro olhar de quem se vive e espera que cada dia seja um melhor que o outro. E se a solidão for necessária, eu aceitaria de bom grado.

Por: Eloy Vieira

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